8 de dez. de 2010

Teorias Conspiratórias sobre os finais de The Walking Dead, Merlin e Caprica

Como este final de ano não tem dado mostras a diminuir o ritmo em termos de trabalho e outras atividades, resolvi postar um condensado inicial das minhas impressões dos finais de temporada que já aconteceram. Depois, com calma, posso trabalhar um post individual de cada  final de série (ou não, conforme o ritmo das coisas eu for assistindo). Dito isto, estejam avisados, Spoilers em profusão à frente! Como o título do post indica coloquei abaixo algumas das minhas Teorias - algo Conspiratórias - sobre os finais que assisti - principalmente TWD e Caprica. Fiquem à vontade para opinarem, compartilharem e comentarem!

The Walking Dead


O que eu achei:


O último episódio de
The Walking Dead foi lento, muito cheio de explicaçõeszinhas e drama - "cerebral" demais (sem trocadilho) se comparado com os outros episódios, que eram mais ação e menos conversinha.

O que eu acho que aconteceu:


O penúltimo episódio terminou do mesmo jeito que a primeira temporada de
Lost - com direito à sua própria versão da escotilha. Eu tenho a teoria de que a primeira temporada acabaria ali e, possivelmente, o arco dentro do CDC se extenderia por uns três ou quatro episódios da segunda temporada. Para mim, em certo ponto, alguém cochichou alguma coisa do tipo: "Não pode terminar assim não!" ou "O povo quer respostas: quem são estes zumbis, qual a origem deles!?" - e eis que surge este episódio tão cheio de explicaçõeszinhas e blá-blá-blá. Um outro motivo para se considerar a abertura da escotilha - digo, da porta - do CDC como o final pretendido da série é que ali se fecha o arco típico de filmes de zumbi a la Romero, que é a etapa 7: a fuga para um lugar considerado "mais seguro", conforme já vimos em nosso post Como Fazer um Filme de Zumbi a la Romero.

Melhor Momento do episódio:


O último episódio de The Walking Dead repetiu direitinho a explicação "científica" do funcionamento dos zumbis que demos aqui no Blog - por ocasião do segundo episódio da série - e, se você quiser comparar a explicação da série e a que eu postei, confira
aqui. Eu só não ganho na loteria porquê não jogo!

Merlin:

O que eu achei:


O último episódio de
Merlin envolveu sem decepcionar! Achei muito interessante a forma como os produtores - a despeito de torcerem a lenda original até não poder mais - não se deixam acomodar em uma rotina fechadinha. Os personagens evoluem e as coisas acontecem: bem ou mal, já temos Dama do Lago, Excalibur, Távola Redonda e um elenco básico de cavaleiros - nada mal para a terceira temporada!

Momento Bidu:


Como também já havíamos adivinhado
aqui no Blog, não só a linda e injustiçada Morgana perdeu o trono por pura trairagem da Lana Lang - digo, da Gwen - como a insossa Morgausse morreu no final! Minha nova previsão é que o triângulo Lancelot-Gwen-Arthur será de alguma forma trabalhado na quarta temporada. Também achei muito indicativo o estado debilitado que Uther se encontrava no final: a impressão que eu tenho é que ele vai, de alguma forma, assumir o papel do Rei Pescador - que é muito importante dentro do Ciclo Arturiano. Nem precisa dizer que na quarta temporada Morgana voltará com tudo - provavelmente aliada a Mordred.

Melhor Momento do episódio:
 
Tirando os momentos óbvios - a frase-clichê "Isto é apenas o começo",  a erupção descontrolada de poder de Morgana, Merlin brandindo a Excalibur, etc. - ver o Gaius brilhando os olhos - além de absolutamente inesperado - foi simplesmente demais!  

Caprica:

O que eu achei:


Nunca comentei sobre
Caprica aqui - e nem vou começar agora - mas só quero dizer que o episódio final incrivelmente corrido foi muito provavelmente uma decorrência do seu cancelamento prematuro. A despeito disso, gostei bastante do todo da série e acredito que ela já entrou para a história do sci-fi televisivo.

O que eu acho que aconteceu:


O cancelamento de Caprica, para mim, teve a ver com o fato de que ela é
nerd demais para o público em geral e nerd de menos para os nerds: faltou acertar o tom (ou decidir a qual público agradar!). Senti falta de ver todas as tramas devidamente "desenroladas" - teria sido especialmente bom acompanhar a tomada do poder da Soldiers of the One pela Lacy e sua tropa de Cylons - mas assim mesmo valeu!  

Melhor Momento do episódio:

O melhor momento do episódio para mim foi a aparição da Lacy como líder da STO diente da estupefata Clarice. (Em segundo lugar, fica a demolição do paraíso virtual pela enraivecida Zoe - não sei se vocês também acharam, mas me pareceu que elas estava trnsformando o paraíso virtual em "alguma outra coisa" virtual.)

Curiosidade Nerd: 

Só percebi agora no último episódio - e nem dava para perceber antes - que toda a trama de Caprica já está desenhada na abertura da série:

1 - A família Adama está em um cemitério, o que já sinaliza a morte do pequeno William (e não da Tamara - que sumiu no final da série, por sinal - e de sua mãe).
2 - A passagem do símbolo do infinito da Irmã Clarice para Lacy representa a passagem do poder da STO para as mãos desta última. BTW, a Igreja na qual a transmissão ocorre parece ser a mesma em que a Irmã Clarice "prega" aos Cylons.
3 - O casal Graystone observando a sua filha Zoe no final da abertura (Zoe e não o U-87!) é exatamente o que acontece na câmara de ressurreição improvisada no laboratório ao final.

Você pode conferir a minha teoria conspiratória sobre a abertura de Caprica com seus próprios olhos clicando aqui.

7 de dez. de 2010

O Homem Cobra (SSSSSSS) (1973)

Alerta: este post viola a regra dos 15 anos 
e poderá comprometer as suas memórias de infância para sempre! 

Uma das minha lembranças mais vívidas da minha infância é o - então próspero - Sr. Sílvio Santos anunciando o filme "O Homem-Cobra" (sim, sou velho!). Durante intermináveis minutos - que pareciam horas a fio - o dono do Baú falava, falava e falava deste filme que era "muito bom" - embora não desse maiores informações a respeito, a não ser que se tratava de um homem se transformando numa cobra. Eu não lembro se eu dormi no meio ou fiquei assustado demais para ver o final ou se simplesmente esqueci mas a questão é que eu não lembrava de praticamente mais nada do filme - daí resolvi assisti-lo, mesmo contrariando a regra dos 15 anos, segundo a qual não se deve jamais assistir um filme que você assistiu com menos de 15 anos de idade (e gostou). Não me arrependi de ter assistido novamente (mesmo porquê a minha recordação era muito fragmentária) mas tive duas grandes surpresas no processo. Spoilers á frente!

Surpresa número 1:
O nome do filme não é Homem-Cobra 
(ou qualquer equivalente em inglês)

O nome do filme é SSSSSSS (imitando o sibilar de uma cobra). Isto fica bem evidente no fotograma que coloquei abaixo:


(note o detalhe que os "esses" são estilizados como cobrinhas, reparou?) 
 
Por incrível que pareça eu meio que lembrava disto, pois sempre prestei muita atenção nos títulos originais dos filmes (mesmo quando criança) pois era uma maneira prática de localizá-lo depois pelo anúncio da programação nos jornais (que, naquela época que se amarrava cachorro com linguiça sempre traziam o título original entre parênteses).

Quando o filme passou na Inglaterra alguém - dotado de um mínimo de bom-senso, se me perguntarem - percebeu que um título com uma consoante só não atrairia muito público e mudou o nome para SSSSnake - "cobra" com um "s" puxadinho. Melhor!
 
Supresa número 2:
O foco do filme não é beeem o Homem-Cobra

O cientista pra lá de maluco que inventou o método revolucionário de se transformar um homem em cobra é muito mais o foco do filme do que o candidato a homem-cobra. A maior parte do filme é centrada nos assassinatos  que o tal cientista comete ao longo do caminho mais do que qualquer outra coisa. Como é um filme temático, todos os assassinatos envolvem... cobras, evidentemente. 
 
E a experiência afinal de contas, deu certo?
 
O cientista do filme sonha em "criar uma criatura viva com o poder de uma cobra e a inteligência de um ser humano". O que aprendemos pelo final do filme é que ele consegue criar  sim, um ser vivo com o poder de uma cobra mas sem nenhum instinto de cobra - ou seja, uma cobra aleijada. Eu sempre digo que "em terra de cego, quem tem um olho é Portador de Necessidades Especiais" - e esse filme comprova bem isso! (vejam lá o final e vocês vão entender!)
 
Nota Nerd: como curiosidade, o ator que faz o homem-cobra é Dirk Benedict, que depois faria o Starbuck de Galáctica, Astronave de Combate (a clássica, não a reimaginada) e o cara-de-pau de Esquadrão Classe A. A filha do professor e par romântico do futuro homem-cobra é a Heather Menzies, a Jessica 6 de Fuga das Estrelas (a série, não o filme).

4 de dez. de 2010

Merlin S03E12 – The Coming of Arthur (parte 1)



 Finalmente Morgana mostrando a que veio.
 
Como este não é o seu Blog de review comum, não vou perder tempo com blá-blá-blá  detalhando o que acontece neste episódio (pois para saber isso você pode assisti-lo, não é mesmo?) mas vou dar logo a minha opinião sobre esta primeira parte do season finale

Spoiler Alert!  Em primeiro lugar, como a abertura do post dá bem a entender, Morgana finalmente se sentou no trono de Camelot (e ficou muito bem na foto, não concordam?). Eu sinceramente pensei que eles fossem enrolar por mais uma temporada com a Morgana desempenhando o seu papel de leva-e-trás e dando risinhos malignos às escondidas pelos corredores do castelo, mas os criadores da série resolveram dar um passo a frente e mudar o script (que a bem da verdade já estava ficando um pouco batido). Hoje em dia os expectadores não têm mais paciência para séries nas quais nada acontece - Lost e 24 Horas nos estragaram para sempre - e eles sabem disso.
 
Achei extraordinariamente interessante a forma como o Graal - porquê era o Graal sem dúvida  alguma - era cuidadosamente mencionado sem nenhuma conotação religiosa: seria uma tentativa de não melindrar um segmento do público? Isso já vinha chamando a minha atenção desde o primeiro ano da série: a todo o momento, os praticantes de magia são chamados de "os da Antiga Religião" sem nenhuma menção ao que poderia ser a "Nova Religião" (pois se há uma "Antiga" tem que ter uma "Nova", correto?). Mesmo na cena do casamento de Guinevere se nota uma grande ausência de símbolos religiosos: cruzes, igrejas, etc. Isto é muito esquisito, porquê - como se sabe - a lenda de Camelot é justamente o embate do Paganismo  contra o Cristianismo. 

Mesmo com esse (enorme) desvio da lenda, Merlin tem continuamente agradado. Existe uma magia especial aqui que faz com que frases do tipo: "Você terá exatamente o que merece" - e o hiper-previsível desfecho - não pareçam ser o chavão que na verdade são. Este é, talvez, o único seriado atual que os risinhos malignos dos vilões não remetem imediatamente aos anos 60 e existe um grande mérito nisto: na maior parte dos episódios ficamos tão envolvidos com o clima de fantasia que estes clichês passam a ser considerados normais - e até esperados - para aquele Universo.

Previsões para o próximo episódio:

De acordo com o que entendi do teaser, no próximo episódio teremos: Excalibur, batalhas com mortos-vivos e (mais) dragão com a voz de John Hurt. Se eu fosse dado a previsões, diria que: (1) Morgana vai perder o trono que tão arduamente trabalhou para conquistar - e por trairagem da Gwen; (2) Morgausse vai morrer; e (3) a morte de Morgausse vai servir de plot para a temporada seguinte. Se tudo isto acontecer mesmo, a temporada seguinte bem que poderia levar o (sub)título de "A Vingança de Morgana", o que acham? Vamos assistir e conferir!

27 de nov. de 2010

Guerra no Rio - O Que Estou Assistindo Edição Extraordinária

A Globo News tem se tornado a minha companheira fiel nestes últimos dias: quem dia! E eu, que só gostava de Mundo S/A estou reaprendendo a ver o Em Cima da Hora. Necessidade.

25 de nov. de 2010

Como Fazer um Filme de Zumbi a la Romero - Tutorial

1. Romero-style. Indroduza os zumbis na trama de forma abrupta e sem dar explicação alguma. A frase "Os mortos estão voltando" dita em tom bem sério, bem olho no olho, já é explicação suficiente. Emende isso com uma cena de ação/fuga bem vibrante para ajudar os expectadores a não pensar mais no assunto (a não ser, é claro, depois de encerrado o filme, em rodinhas com os amigos e posts como esse).  

Dica: se necessário, mate o personagem que começar a tentar explicar muita coisa - isso vai ensinar à platéia que é melhor ficar de bico fechado - pelo menos durante o filme.

2. A Barricada. Reúna os seus personagens principais em um ambiente que possa ser defendido. Isto é importante: mostre-os dispendendo algum tempo barricando o lugar ou executando tarefas equivalentes - reunindo armas, procurando mantimentos, checando as entradas e saídas, etc. Isto vai ajudar o seu público a sedimentar na cabeça que aquele ali é um espaço de Ordem, em contraposição ao Caos que virou o mundo lá fora.

3. Botando Ordem na casa. Mostre os  personagens se organizando internamente: quem vai liderar, quais os planos que eles têm, "quem vai ficar de vigia no primeiro turno" e assim por diante. Isto reforçará a idéia de que aquele ambiente representa um Microcosmo fechado (ou quase fechado). Enquanto isso, lá fora, o número de zumbis só cresce.

Dica: comece a soltar aqui e ali uma ou outra deixa dos conflitos existentes entre os personagens e das motivações por detrás deles: quem vai liderar (tem sempre um ressentido), "quem vai ficar de vigia" (ninguém em sã consciência quer ficar) e, o mais importante, quem fica com a única espingarda carregada na casa. Este é um bom momento também para indicar para o expectador o personagem que foi secretamente mordido por um zumbi (se existir um no seu filme) e/ou o personagem traíra (que vai dar a volta no grupo).

4. Pré-ruptura. Escalone o conflito entre os personagens. Introduza, se possível, um limitador de tempo e/ou recursos. Os  zumbis lá fora parecem chegar de caminhão.

5. Ruptura. A desorganização interna (os conflitos) aliada à desorganização externa (o número crescente de zumbis) leva, eventualmente, ao colapso do sistema. Os conflitos interpessoais que até ali estiveram mais ou menos contidos explodem de vez e os zumbis penetram no abrigo. Se houver um personagem que tiver sido mordido por um zumbi em uma etapa anterior, possivelmente é este o momento em que ele vai se transformar. Não vou te enganar não: quase a metade dos seus personagens vai morrer nesta fase.

6. Fuga. Os personagens abandonam o seu refúgio - agora tomado pelos zumbis - em direção a um espaço considerado "seguro" - geralmente, este novo espaço já havia sido mencionado na fase 3. Boa parte do restante dos personagens morre nesta fase.

7. Final. Esquece isso de Final Feliz: num final típico a la Romero as coisas não se resolvem e o mundo não volta ao que era antes, muito menos os personagens (se sobrou algum!). 

23 de nov. de 2010

The Walking Dead - S01E04 - Vatos

Spoiler Alert! Aprendemos algumas coisas interessantes sobre zumbis neste episódio:

(1) Eles andam devagar mesmo! (talvez as corridinhas do primeiro episódio tenham sido a emoção da estréia, who knows...)
(2) Eles fingem de morto como ninguém! (de um jeito bem natural, se o podemos dizer...)
(3) Eles parecem ter uma preferência especial por órgãos internos - assim como os zumbis do Night of the Living Dead (1968) de Romero.

Bom, estes foram os fatos verdadeiramente importantes do episódio desta semana (ou você achou que essa história de "corre pra cidade", "volta da cidade", "pega as armas", "perde as armas",  etc. eram o foco da história?). 

Um outro aspecto que achei muito interessante foi o sonho premonitório do caipirinha genérico (por falar nisso, é extraordinário como sonhos premonitórios sempre ficam totalmente esclarecidos um minuto depois de tudo que eles previram se realizar, não é mesmo?). Isto lembra muito a HQ, na qual acontecem algumas situações e eventos que poderiam muito bem ser interpretadas como sobrenaturais - embora nunca fique claro se estas o são - mas que poderiam ser também um sintoma de que os personagens  estão simplesmente enlouquecendo devido à situação toda  em que eles se encontram. Este é um dos grandes recursos narrativos, ao meu ver, que a HQ se utiliza para passar para os leitores o climão de "fim do mundo" e de total subversão das leis naturais que permeia a trama. Eu gostaria muito de ver este recurso utilizado também na Série pois foi responsável pelos grandes momentos de pura tensão da HQ, mas acho que não vai acontecer (explico abaixo).

Uma coisa que ficou bem claro neste episódio é que, definitivamente a Série não é a HQ. Tudo está muito, muito mudado - e não falo apenas da trama, dos personagens novos, reiventados, reinseridos e remexidos mas do clima geral muito mais ligeiro, muito menos opressivo que na HQ. Isto é perfeitamente compreensível pela tentativa de se alcançar uma audiência maior, mas existem situações ali que nunca, nunca aconteceriam na HQ (gangue "do bem", anyone?). É um produto (quase que) inteiramente diferente, como se os personagens de Guerra nas Estrelas fossem transportados para um filme de Tim Burton (ou o contrário).

PS: Scott Pilgrim vs. the World é o Melhor Filme Ever de Todos os Tempos de 2010 mas não tive tempo ainda de postar sobre ele aqui. Fica a dica!

22 de nov. de 2010

Supernatural S06E09 - Clap Your Hands If You Believe

Spoiler Alert!  “Serão os UFO’s Fadas?” Este foi o tom do episódio de Supernatural desta semana. Embora possa ter surpreendido a muitos, esta tese não é nova: ela já aparece no livro Passaporte para a Magônia (1969), de Jacques Vallée – um dos maiores e melhores best-sellers ufológicos de todos os tempos. 

Neste livro, Vallée faz uma análise intensa dos avistamentos de seres voadores na era pré-industrial - o que inclui bruxas, fadas, elfos, etc. - e os compara com os modernos avistamentos de UFO’s, percebendo coincidências notáveis - muitas coincidências - entre um e outro conjunto de avistamentos.  Tudo o que Vallée fala faz todo o sentido: se você examinar a literatura envolvendo os seres sobrenaturais folclóricos da europa medieval verá que já está tudo ali: carruagens  naves luminosas, círculos nas plantações (crop circles), abduções, lapsos de tempo, visitações noturnas, etc. Este paralelo já era conhecido do meio ufológico antes mesmo do livro de Vallée - e era visto como uma "prova" de que UFO’s já existiam de ganharem este nome, em meados do século XX.  [Jung também já havia demonstrado a continuidade entre os dois conjuntos de avistamentos no seu "Um Mito Moderno sobre Coisas Vistas no Céu" (1958) - atendo-se mais, no entanto, ao aspecto psicológico do fenômeno.]

A grande sacada de Vallée - genial, se me perguntarem - foi a de propor a seguinte questão: e se os avistamentos de UFO’s no século XX fossem "prova" de que os mesmos fenômenos reputados pelos antigos continuam acontecendo em nossa era tecnológica - e não o contrário?  (ou seja, "E se os UFO’s fossem Fadas ao invés das Fadas serem UFO’s?") Para resumir beeeeeeeeeem o desenvolvimento do livro, Vallée acaba concluindo que se tratam de seres extradimensionais que tendem a ser percebidos diferentemente de acordo com o paradigma cultural vigente: "fadas" para as populações agrícolas da europa medieval e "espaçonaves" para nós. Jóia, não?

Esta abordagem fica bem clara neste episódio de Supernatural: na parte em que o elfo-mor afirma que, por serem de uma dimensão paralela à nossa não teriam quaisquer dificuldades de resgatar a alma de Sam da jaula. Perceberam?

No mais, o episódio de Supernatural desta semana foi bem legal – apesar de meio bobo. Agradou também a abertura estilo Arquivos X  -  muito bem feitinha - e agradou aos saudosistas das aventuras de Mulder e Scully - como eu. Espero que seja o início de uma retomada na qualidade dos episódios que, como tivemos a oportunidade de comentar, andaram bem ruinzinhos.

Notas: 

- Coloquei o Spoiler Alert! no início deste post apenas por excesso de zelo, já que o próprio título do episódio - "Bata Palmas se você Acredita" - já é um Mega Spolier! Esta é a fórmula para curar a Sininho no livro de J. M. Barrie,  Peter Pan. Também é um pouco gozação/homenagem - pelo menos assim eu o achei - com o I Want to Believe de Arquivos X.

- Em outro post comentamos sobre como o livro Eram os Deuses Astronautas?, de Erich von Däniken influenciou clássicos como Battlestar Galactica e Star Trek (as séries clássicas, pelo menos). Este episódio de Supernatural retoma o tema com outra abordagem: será coincidência? (brincadeirinha)

- A figura que escolhi para abrir este post é de um afresco sobre a Crucificação datado do século 14 (!) - o link para o verbete da Wikipedia sobre o monastério no qual está localizado o afresco está aqui! Não tem nada a  ver com fadas - que é o tema deste episódio de Supernatural - mas é legal assim mesmo! A imagem inteira coloquei aí embaixo - para se pensar!

18 de nov. de 2010

Needle (2010)

"Quão parecido com Hellraiser um filme pode ser sem o quebra-cabeças em formade cubo, sem pinhead e sem os cenobitas?" Esta foi a pergunta que eu me fiz quando vi o cartaz e li a descrição de Needle. Acabei percebendo, no decorrrer do filme, que a proposta não é nem um pouco parecida com a de Hellraiser - está mais para um filme de Terror adolescente comum. 

A trama é bem simples: um grupo de universitários começa a morrer misteriosamente após se depararem com um misterioso artefato do século XIX. A narrativa é bem linear e conforme o que se pode esperar deste tipo de filme. Os personagens são extremamente esteriotipados e são incrivelmente previsíveis no seu comportamento. O resultado final, no entanto, é bastante assistível até - e garante alguma diversão. Um filme-pipoca!

17 de nov. de 2010

The Avengers: Earth's Mightiest Heroes

Tenho assistido o novo desenho dos Vingadores - e gostado muito!  Algumas das novidades introduzidas nesta versão que especialmente me agradaram foram:
 Spoiler Alert!
1- A Viúva Negra perde o ar de moça bem-comportada que vimos em Iron man 2 e volta aos bons velhos tempos de agente duplo - com direito a sotaque russo carrrregado! Para mim foi um alívio!
2 - Thor volta às origens - com direito a Ponte dos Arco-Íris e toda a parafernália psicodélica asgardiana: já não era sem tempo! Um detalhe da animação que eu particularmente apreciei foi o girar do martelo antes dos vôos - não sei se alguém vai lembrar, mas o Thor original de Kirby não voava - como o Super-Homem, por exemplo - mas sim arremessava o martelo e ia "de carona", por assim dizer, segurando na alça do mesmo. (Na verdade, se formos levar ao pé da letra, nem mesmo o Super-Homem originalmente voava) Só senti alguma falta do limite de 60 segundos que existia nas histórias clássicas - nas quais se Thor permanecesse mais do que 60 segundos afastado do seu martelo mágico revertia à forma humana e sem poderes de Donald Blake - mas como os roteiristas optaram, aparentemente, por presentar o Deus do Trovão sem uma identidade secreta, este argumento não seria possível. 
3 - Loki, por sua vez, também volta as usar o capacete de chifres e a malha escamosa!
4 - Gavião Arqueiro volta a ser um tipo nebuloso - embora não muito por escolha própria.
5 - O Homem de Ferro representado no desenho está muito bem alinhado com o que vimos nos dois filmes  recentes - o que é muito positivo, pois estes foram muito bons!
6 - O Capitão América - pelo menos no único episódio que eu vi que ele apareceu - parece mais com um soldado do que com um vigilante uniformizado, o que tem muito mais a ver com a concepção original do personagem! 

Outro aspecto realmente bom deste novo desenho é que os roteiristas aparentemente não tem nenhuma vergonha de colocar uma enxurrada de vilões na tela - mesmo os vilões ridículos como MODOK - sem explicar nada! Isto é realmente maravilhoso: as origens "amarradinhas" e a necessidade americana obsessiva de se explicar tudo foi um entrave por muito anos à migração dos quadrinhos para outras mídias. Única exceção até agora para a origem "recontada" do Homem-Absorvente - que passou a integrar o elenco dos seres gama-irradiados (quando na sua origem este era um derivado de magia asgardiana). Tirando este pequeno deslize, a abordagem geral foi muito boa, muito action-driven!

De resto é esperar para ver!

15 de nov. de 2010

The Crazies (2010)

O filme The Crazies fala de uma cidadezinha no interior dos EUA que é tomada por um vírus que tranforma as pessoas em maníacos homicidas. Esta é - em 140 ou menos - a história do filme. Acrescentando que se trata de um remake de um filme de 1973 escrito e dirigido por George Romero - o "pai" dos modernos filmes de zumbi - não se tem muito mais o que  se dizer do ponto-de-vista técnico. Agora vamos ao que realmente interessa!

Quem acompanha as minhas postagens de The Walking Dead sabe que eu não sou muito fã de zumbis "científicos" - embora pareça que esta categoria de zumbis já tenha definitivamente conquistado o seu lugar no Cinema e na TV. Enquanto assistia The Crazies, eu me perguntava o que diferiria os infectados deste filme dos zumbis científicos de Extermínio e Resident Evil e a conclusão que eu cheguei é... nada! De repente descobri, como que numa epifania, que a razão pela qual eu instintivamente desgosto de filmes de zumbi que se fundamentam em algum vírus ou alguma contaminação biológica como forma de justificar a sua origem é porque, na verdade, se trata de um filme de epidemia querendo se passar por um filme de zumbi - e é essa falsidade ideológica no roteiro que me repugna. Vamos ser honestos aqui: se está infectado, é porquê está vivo; e se está vivo, é porquê não é zumbi. Simples assim. The Crazies, neste sentido, é muito bom porquê é um filme de epidemia "honesto" - e, embora os infectados apresentem alguns sinais de transformação física nos estágios finais da doença (olhos amarelos e veias escurecidas) - isso não é feito de maneira a confundir o expectador a pensar que se trata de algo parecido com um morto-vivo, mas tão somente um sinal avançado de infecção.

No  mais, o filme realmente é muito bom, bem assistível e envolvente. Segue mais ou menos o script comum a histórias de epidemia - que é pelo menos tão velho quanto o livro "A Peste" de Camus (1947) - mas é muito bem executado. Spoiler Alert! Você tem a figura de autoridade menor que tenta alertar (inutilmente) alertar as autoridades maiores do risco para a população, você tem o infectado que ameaça a vida dos companheiros mas que se redime no final e você tem o final-surpresa - mas tudo muito bem trabalhadinho. Vale beeem a pena!

14 de nov. de 2010

Supernatural - S05E08 - All Dogs Go to Heaven

Não se pode elogiar! Depois de eu dizer que esta era a melhor temporada de Supernatural até agora, fui presenteado com dois dos piores episódios que já tive a oportunidade de assistir!  (Até então o pior episódio de Supernatural para mim era aquele passado em um estúdio de cinema., no qual está sendo rodado um filme de terror, lembram desse?) O último episódio, All Dogs Go to Heaven atingiu - espero - o fundo do poço! Os 5 ou 6 minutos nos quais aparece o ator Mark Sheppard foram, basicamente, o que sobrou - não havendo mais nada para se apreciar.  Spoiler Alert! E eu até agora estou tentando entender: se os caras são shapeshifters, porquê eles só viram cachorro! Sem explicação!

Nota: Os dois últimos episódios introduziram um novo elemento que pode vir a se tornar um plot da temporada: o da busca pelo Purgatório. Não vou me aprofundar neste tema, mas foi dito no episódio Family Matters que os seres sobrenaturais - pelo menos aqueles com existência corpórea, como vampiros, lobisomens, skinwalkers, etc. - vão para o Purgatório quando morrem. Do ponto de vista da Teologia de Dante - que é citado no episódio em questão como referência - isso não faz o menor sentido! Vamos aguardar para ver como os roteiristas vão desenvolver isso aí!

12 de nov. de 2010

O Que o #Nerdcast 235a não falou sobre #BattlestarGalactica

Agora que chamei a sua atenção, acabei de ouvir o Nerdcast 235a que está excepcional - e mal posso esperar pela segunda parte na quarta-feira depois do feriado! Senti apenas que faltou falar um pouco mais da série clássica, que me decidi a tratar neste post. (não sei se eles vão abordar este assunto na parte 2 mas aqui vai mesmo assim!)

Onde tudo começou

Tudo começou em 1968 a publicação do livro "Chariots of the Gods?" - que aqui no Brasil se chamou "Eram os Deuses Astronautas?". Neste livro, Erich von Däniken levanta milhões de dados, argumentos e palpites a fim de embasar duas hipóteses que fariam a cabeça de muita gente nos anos a seguir: que (1) a Humanidade tem, na verdade, uma origem extraterrestre e que (2) as histórias de todas as mitologias sobre divindades vindas do céu se referem, na realidade, ao contato com visitantes de outros planetas. 

Desconfio que Erich von Däniken deva ter ficado podre de rico, pois inaugurou uma verdadeira franquia de mais de uma dúzia de livros ao redor do mesmo tema. Na época, as teorias de Däniken animaram toda uma geração - e, aqui no Brasil dos distantes anos 80, o seu nome era uma citação quase que obrigatória da revista Planeta - então uma espécie de porta-voz dos movimentos alternativos e de contra-cultura. E o que isso tema ver com Battlestar Galactica? Tudo!

I Want to Believe

Battlestar Galactica (a série original) surgiu em 1978, ou seja, dez anos depois dos livros de Däniken. O prólogo da série já resumia bem a trama - cito-a aqui:

"Existem aqueles que crêem que a vida aqui começou lá em cima, bem distante no Universo com tribos de humanos que podem ter sido os antepassados do egípcios ou dos toltecas ou dos maias. Seres que podem ser irmãos do Homem e que até agora lutam para sobreviver em algum lugar muito além daqui."

(Existe uma versão usada no filme que é um pouquinho mais longa - e que menciona as pirâmides do Egito e a Atlântida:

"There are those who believe that life here began out there, far across the universe, with tribes of humans who may have been the forefathers of the Egyptians, or the Toltecs, or the Mayans. That they may have been the architects of the great pyramids, or the lost civilizations of Lemuria or Atlantis. Some believe that there may yet be brothers of man who even now fight to survive somewhere beyond the heavens. ")

Não preciso falar mais nada, OK? Se você quiser conferir a abertura da série com a dublagem em português, clique aqui. Toda a trama de Galactica era baseada na tese de Eram os Deuses Astronautas e existem diversos aspectos da série (clássica) que remetiam a isto - alguns do que mais me chamavam a atenção quando eu assisti pela primeira vez foram:

- Os personagens tem nomes tirados da mitologia: Adama (Adam/Adão), Apollo, Athena, Cassiopeia, etc.
- As doze tribos que compõe a  Humanidade de Battlestar Galactica correspondem aos doze signos do Zodíaco - o que eu nunca entendi direito, mesmo quando criança, porquê os signos do Zodíaco só fazem sentido vistos da Terra, uma vez que são interpretações humanas de aglomerados de estrelas situados dentro de certo intervalo no céu noturno, mas deixa pra lá;
- O Cylon  que servia de conselheiro e ajudante de ordens do Baltar original se chamava Lúcifer. (Tenho para mim que o personagem da número 6 foi enormemente baseada nesta relação entre o Baltar original e este Cylon em particular - coisa que só é possível perceber e apreciar conhecendo-se um pouco da série original. A genialidade dos criadores da versão reimaginada foi, justamente, tornar uma relação externa - entre dois personagens distintos - em uma relação interna - as visões de Baltar com a número 6 - deixando a nós, expectadores, muitas vezes na dúvida se esta é real ou não.)
- O  capacete dos pilotos dos caças de batalha - e esse é o melhor de todos - é todo em moldes egípcios (ver foto). 

Meta-Deuses

Até aí tudo bem, mas no episódio War of the Gods, a trama toda dá um salto impressionante. A história é a seguinte: Apollo e Starbuck encontram os destroços de uma nave em um planeta qualquer - e no meio dos destroços, um único sobrevivente que se auto-denomina Conde Iblis (com "L"). Eles levam o tal Conde Iblis de volta com eles para a Galáctica - e este começa a demonstrar habilidades incomuns e a realizar prodígios que a população da frota passa a considerar como "milagres". O Conde, então, se diz capaz de levar a frota até a Terra se eles "se entregarem" à sua liderança. 

Não tem como detalhar tudo o que acontece neste episódio mas no final, ficamos sabendo que o Conde é na realidade o membro de uma raça anterior aos humanos - que evoluiu até um nível tão avançado que é indistinguível do que consideramos como sobrenatural. Um dos momentos marcantes do episódio é quando Apollo finalmente resolve atirar nele e os raios o atravessam, não sem antes revelar um silhueta em negativo de uma criatura não-humana com chifres - pois é!  (Se estiver curioso, veja a cena da transformação aqui!) Com o desenvolver da história aprendemos que esta raça antiga se dividiu em duas facções: uma - a do Conde Iblis - que resolveu usar os seus poderes e habilidades para fins egoístas, e uma outra, benévola, que aparece como uns seres envoltos em luz - pois é!

Então, recapitulando, todas as histórias de deuses vindos do céu são recordações da visita dos ancestrais das 12 tribos. No entanto, é bem possível que as recordações dos deuses das próprias 12 tribos sejam recordações de interações passadas da super-raça anterior. Legal, não? 

Meus Deuses, eles estão em toda a parte!  

Apenas como uma nota rápida, e para se ter uma idéia de como este conceito oriundo dos livros de Däniken era difundido pela ficção científica da época, existe um episódio de Star Trek (a série Clássica) - chamado Return to Tomorrow - que tem um argumento em tudo parecido com o de War of the Gods: uma raça antiga de seres hiperevoluídos se divide em duas facções rivais -  por diferenças "éticas"  na utilização de suas habilidades - e acaba iniciando uma guerra milenar. Esta raça de seres antigos seria - no Universo Trekkie clássico - a responsável por "semear" a galáxia com vida - o que serve de "explicação" para o fato de que a vida humanóide é encontrada em praticamente todo planeta que a Enterprise vai. Neste episódio também fica implicado que o desenvolvimento das civilizações é cíclico e que, um dia, a espécie humana alcançará o mesmo nível de desenvolvimento que os "semeadores" - e que terá que se defrontar com as mesmas escolhas. Este conceito é reforçado em episódios como Where No Man Has Gone Before, Charlie X e Plato's Stepchildren - que trabalham bem a noção de que:(1) poderes paranormais estão imbuídos na constituição do ser humano e que (2) o seu despertar faria parte do processo evolucionário humano normal. Fim da Nota.

Epílogo: 

Depois de War of the Gods, a Battlestar Galactica clássica caiu beeeeeem de qualidade de roteiro - até o seu final. Mais adiante, houve uma tentativa de ressuscitar a série (como um spin-off, em 1980) já com uma outra abordagem e outros protagonistas - e motos voadoras ao invés de caças (?!). A trama era a seguinte: a Galactica finalmente chega à Terra e percebe que os seus parentes terrestres (dos anos 80) ainda eram primitivos demais para suportar uma luta com os Cylons. Para solucionar este problema, eles deixam aqui alguns "agentes camuflados" com a missão de "acelerar" o desenvolvimento da Terra, plantando idéias de avanços tecnológicos aqui e ali. Este é, claramente, um material de cunho ufológico-conspiratório, bem na linha de "Eram os Deuses Astronautas" - mas que não foi, de forma alguma, bem trabalhado nesta segunda tentativa. 

Não acredito que se caiba dizer que a série reimaginada é melhor ou pior que a clássica (cada qual teve o seu momento) mas acho legal conhecer um pouco da mitologia que antecede a série de 2004 - até para se poder ter alguma noção do que os seus idealizadores tomaram como guideline na hora de construir os roteiros. Só assim, por exemplo, se entende: (1) o que eram as visões de Baltar da Número 6, (2) o que foi a aparição do Baltar e da Número 6 em nossos dias - nos últimos minutos do episódio final - ou, ainda, (3) porquê a  Hera  tinha tanta importância. Embora Caprica - assim me disseram - tenha sido cancelada, com certeza existe espaço para múltiplos desenvolvimentos deste riquíssimo legado no futuro. Só nos resta torcer - e aguardar!

11 de nov. de 2010

The Walking Dead - S01E02 – Guts

 Spoiler Alert! O segundo episódio de The Walking Dead não decepcionou - mas ficou, de alguma forma, aquém do que eu gostaria. A trama toda foi um mini-Dawn of the Dead perceberam? Eu não lembro de nada disto que foi mostrado nos comics - o que não significa que não esteja lá, só que eu não lembro! Não sei se cochilei mas o fato de um dos sobreviventes no prédio fazer contato por rádio justamente com o grupo fora da cidade no qual está a esposa e o filho do policial Rick (o nosso herói) pareceu - pelo menos para mim - uma extraordinária forçação de barra! Bom, este foi o review do episódio: agora vamos à parte realmente importante: zumbis!

Me incomoda muito que zumbis - que, pelo menos teoricamente, estão mortos - "farejem" o ar como cães perdigueiros - e isto me incomoda por um simples motivo: eles não respiram! As cenas nas quais isto acontece requereram um esforço extra de suspension of disbelief de minha parte - pois quebraram toda a plausibilidade do cenário até então construído na minha cabeça. High School of the Dead - antes de descampar de vez para o estilo fan service, trabalhou este conceito de uma forma muito melhor: ao relacionar o direcionamento dos zumbis à percepção de sons e vibrações. Embora este mesmo episódio de The Walking Dead tenha explorado alguma coisa da atração dos zumbis pelos sons - que é um tema, inclusive, bastante recorrente nos quadrinhos - o grande destaque ficou por conta das habilidades, digamos, "farejadoras" dos mortos-vivos. O fato de se ter dado um destaque maior para as faculdades olfativas dos zumbis, pode indicar uma dependência maior destes do cérebro primitivo (paleocórtex) em detrimento das faculdades intelectuais superiores (neocórtex) - provendo, desta forma, alguma base neurológica para o comportamento dos walkers. Isto os colocaria, é claro, muito mais na categoria de zumbis científicos - aqueles que na verdade estão vivos, mas infectados - do que na categoria de zumbis sobrenaturais estilo Romero - que estão verdadeiramente mortos. (já falamos desta distinção entre os dois tipos básicos de zumbis neste outro post).

Fiquei de olho desta vez para ver se os zumbis "corriam" - que é, como sabemos, uma característica dos zumbis científicos - mas o que eu vi foi, no máximo, um "andar apressadinho" - e nenhuma corrida de fato que merecesse este nome. No entanto, os zumbis deste episódio sobem escadas, escalam cercas e usam até mesmo instrumentos primitivos (como uma pedra para quebrar vidro) - o que, embora não seja totalmente incompatível com zumbis sobrenaturais, representa, por si só, um grande distanciamento dos quadrinhos. Não deixa de ser uma opção interessante para aqueles que - como eu - leram a HQ antes de assistir à série: pois podemos sempre aguardar por novas surpresas - e não por uma mera roteirização do que já lemos na HQ.

O fato de os zumbis da versão televisiva escalarem cercas por si só já desconstrói arcos inteiros dos quadrinhos - como aquele nos quais os sobreviventes se refugiam por trás de uma cerca de tela e arame farpado.

Por sua vez, o fato de os zumbis correrem - ou, pelo menos, andarem com muita pressa - inviabiliza um acampamento no espaço aberto - como nos foi mostrado aqui. Nos quadrinhos isso só é possível porquê os mortos-vivos caminham bem devagar - podendo ser avistados e alvejados muito antes de se tornarem uma séria ameaça. 

O pobre caipira que foi deixado para morrer no alto do prédio - que, com toda a certeza, não aparece nos quadrinhos - e o desfecho algo inconclusivo (tinha um monte de ferramentas espalhadas pelo chão, não tinha?) pode indicar um "gancho" para um retorno do personagem. Aliás, o simples fato de terem escolhido um ator tão bom -  Michael Rooker, pesquise por aí! - já é um indício de que ele pode muito bem voltar a aparecer - talvez como antagonista do grupo de sobreviventes. Se isto acontecer, vamos ver como vai ficar o resultado final: o grande barato dos quadrinhos de The Walking Dead - o que o torna especial - é justamente o fato de não existir polarização Bem versus Mal - sendo simplesmente a história de uma grupo de pessoas tentando sobreviver em um mundo absolutamente caótico. Algo, aliás, em tudo parecido com a vida real.

9 de nov. de 2010

Dexter - S05E07 - Circle Us


Uma Família Feliz? 
 Spoiler Alert! Quando eu vi pela primeira vez - na mão do Boyd, se não me engano - a capa do CD motivacional do Jordan Chase, a achei muito bem produzida para ser só uma menção acidental. Confesso, no entanto, que não esperava que a trama fosse se desenvolver tão rápido. Eu tinha imaginado que este poderia um bom gancho para uma Temporada seguinte - algo do tipo, Dexter procura o mesmo guru motivacional do Boyd a fim de tentar trabalhar internamente as suas questões, viram amigos, matam uma ou duas pessoas juntos, etc. Mas não! Três episódios depois já está lá ele, totalmente envolvido na trama de uma maneira absolutamente imprevista. Foi uma das (muitas) surpresas agradáveis do episódio.

Por falar em desenvolvimento rápido, em meros dois episódios: (1) Lumen já se firmou como sidekick; (2) já segurou o Harrinson no colo e (3) já teve uma cena de "clima"  - vocês repararam? - com o serial killer mais famoso de Miami. Isso sim é rapidez! 

Em Tempo: eu tenho achado o Dexter desta Temporada absolutamente descuidado nas suas atividades. Isso com certeza vai ter um preço mais adiante - a não ser  que a  série tenha sabandonado a abordagem policial e passou para um tom mais de soap opera. Santa Brígida não permita!

6 de nov. de 2010

Mythbusters S05E17 - Mitos de Super-Heróis


Assisti esta semana novamente ao episódio dos Caçadores de Mitos sobre Mitos de Super-heróis. Já o tevo ter assitido umas 5 ou 6 vezes - geralmente enquanto estou fazendo outra coisa no computador - mas desta vez fiz um autêntico esforço para prestar alguma atenção. Isso só confirmou a minha impressão inicial: os mitos analisados simplesmente não me convenceram  como fã de quadrinhos. 

O Arpão do Batman:

O primeiro mito analisado - se é possível criar um mecanismo que lance um arpão e erga um ser humano ao topo de um prédio em uma velocidade compatível com a do Batman -  e que  foi dado como "detonado" - não me convenceu. Não sei quanto tempo levou desde as primeiras tentativas de Adam e Jamie de criarem o tal arpão até o resultado final - imagino que semanas ou no máximo meses pois eles devem gravar vários programas ao mesmo tempo - mas eu achei simplesmente impressionante o progresso significativo na construção da engenhoca. Se você extrapolar para um período de 10 anos de tentativa-e-erro com milhões de dólares à disposição e uma gigantesca corporação  multinacional por detrás, eu acho factível sim! Para mim este mito está desdetonado!

O Anel do Fantasma:

O mito baseado na história do Fantasma - na qual o herói "marca" os vilões com o anel da caveira, geralmente com um soco bem dado - foi particularmente falho. Eles (a Produção) esqueceram de ler os quadrinhos - ou seja, de fazer aquela pesquisa básica preliminar tão necessária antes de qualquer experimento científico. Por conta desta falha, eles acabaram por relacionar a "marca" deixada pelo anel do Fantasma com o uso de força física apenas. Se tivessem consultado ao menos a Wikipedia, saberiam que o Fantasma possui na realidade dois anéis: o da caveira - que todo mundo conhece - e um anel do "bem" ,com o qual ele marca as pessoas que são suas amigas. Toda vez que aparece ele marcando uma pessoa amiga com o anel do bem, ele só encosta o anel na pessoa e pronto - a marca aparece! Isto prova - dentro da lógica de quadrinhos, é claro! - que a marca não pode ser derivada da aplicação de força física simplesmente. Busted!

Nota Nerd: Quando criança, eu achava que era algum componente místico no anel que faria surgir a marca - coisa que o famigerado filme com Billy Zane  quase que deu a entender. Hoje eu sei que isto não faz o menor sentido (vejam o quanto eu cresci!) pois o  Fantasma - como o Super-Homem, o Batman e a Mulher Maravilha (esta na sua concepção original dos anos 40) - eram heróis científicos - e não poderiam ter nem um grão de misticismo na sua estrutura narrativa sem desacreditar toda a história. Na verdade, quando criança mesmo, eu comecei a achar que a marca da caveira era devido a alguma reação química desconhecida - e, com toda a certeza, teria sido bem mais legal se os Caçadores de Mitos tivessem seguido esta abordagem.

Troca de roupa em cabine telefônica:

Eu tive a impressão que este mito foi colocado ali de forma mais ou menos gratuita - só para se ter uma desculpa para se vestir o trio de sidekicks com roupas de super-heróis. Aqui, mais uma vez, faltou pesquisa da Produção, pois o mito da troca de roupa em cabine telefônica é tipico do Super-homem - que tem, evidentemente, supervelocidade. Eu teria achado muito mais legal se eles tivessem abordado, por exemplo, o conceito - utilizado nos quadrinhos do Flash - de um uniforme comprimido ao ponto de caber num recipiente do tamanho de um anel. Busted por falta de pesquisa!

Curva de 90 graus com o Batmóvel (digo, Mitomóvel):

Na minha opinião, este foi - disparado - o melhor! (sem trocadilho!) Poderia ter sido feito um programa inteiro só com mitos de Batmóvel: se um par de para-quedas são mais eficazes para se desacelerar um carro em alta velocidade do que o freio, etc. Não acho que isso venha a acontecer  de fato algum dia, mas sempre podemos sonhar! =)

Dexter - S05E06 - Everything Is Illumenated

 Spoiler Alert! No último episódio de Dexter, ficou bem claro para mim que uma das tramas a serem exploradas nesta Temporada é a já tão batida tentativa do pobre Dexter de "criar" uma duplicata dele mesmo. Se a relação com Lila (Segunda Temporada) tivesse continuado, não tenho dúvidas que o Sargento Doakes seria a pedra fundamental de um prolífica carreira como incendiária. O Promotor latino da Terceira Temporada foi outra tentativa frustada - que dispensa comentários maiores. Se incluirmos o garoto que comete suicídio na Primeira Temporada e o  próprio Harrinson na Quarta Temporada, veremos que esse tema é uma das linhas mestras da série. Tenho Fé na Lumen - e queria que tudo desse certo para eles. Ela, de certa forma, preenche as características da própria Rita no começo da série (super damaged!) - além de possuir alguma semelhança física. Não é difícil de se imaginar algumas situações possíveis de se acontecer no desenvolvimento da trama: Debra flagrando o Dexter em alguma situação com a Lumen, por exemplo (e lhe dando uma bronca) - ou mesmo o desenvolvimento de uma autêntica conexão entre os dois, quem sabe?

3 de nov. de 2010

Supernatural - S06E06 - You Can't Handle the Truth


O episódio desta semana de Supernatural foi (mais) um excelente episódio de umas dasmelhores da melhor temporada até agora. Confesso que quando assisti aos primeiros episódios da saga dos Winchester - pela Warner - achei que esta não fosse durar muito. O final bombástico da primeira temporada, no entanto, ajudou a catapultar esse pensamento para longe - e, desde então, a série tem sido uma sequência de gratas surpresas. Eu tenho uma desconfiança natural quanto a séries que usem o modelo adotado por Supernatural - modelo este que alterna episódios do tipo "monstro da semana" com a construção em paralelo de uma mitologia que se propõe a "amarrar" a trama em um arco maior - e isso desde Arquivos X. 
 
Isto acontece por duas razões básicas, A primeira delas é que - pelo menos assim eu tenho percebido -, com o passar do tempo, o arco mitológico tende a se impor sobre os episódios one-shot - o que faz com que a série perca a vitalidade em si, podendo descambar para uma série de meta-intrigas e fosforilações intermináveis. A segunda razão é que arcos mitológicos - por mais intrincados e bem construídos que sejam -  tendem a eventualmente se resolver além de qualquer complicabilidade (inventei essa palavra) posterior, o que "quebra" o modelo mitologia versus monstro da semana de uma forma por vezes irreparável. 

Foi assim com Arquivos X : muito pouca gente se apercebeu, mas toda a trama de Arquivos X se resolveu do quarto para o quinto ano. Quando digo "se resolveu" digo exatamente isto: foi tudo inequívoca e absolutamente explicado. Por volta do meio do quinto ano, o expectador de X-Files moderadamente atento já sabia: (1) que fim levou a irmã de Mulder (e detalhes deste fim); (2) porquê (e por quem) ela foi levada;  (3) qual a relação do Canceroso com a família do Mulder; (4) qual a natureza exata da conspiração alienígena e (5) o que era e pra que servia - e de onde tinha vindo - o esquisitíssimo óleo negro. Ou seja: toda a trama que se constituia na mitologia da série já havia sido derrubada. Os quatro anos seguintes aconteceu o que todo mundo sabe: a série foi se arrastando de asa quebrada até um final um tanto quanto melancólico. Ela não sobreviveu à explicação de sua própria mitologia - e isto não é verdadeiro apenas para séries de TV.

Supernatural tem conseguido driblar de forma muito eficiente esta falha potencial do modelo através da contínua e operosa construção e reconstrução de mitologias uma em cima da outra. Desta forma, a saga do "demônio de olhos amarelos" deu origem à saga de Lilith, que deu origem a saga de Lúcifer, que deu origem à atual busca pelos "artefatos angélicos" espalhados pela Terra. Isso tudo de uma forma bem criativa, bem costuradinha - com um mínimo de transição perceptível. Eventualmente, no entanto, a saga dos irmãos Winchester terá de chegar ao fim: isto porque esta chegará a um ponto onde simplesmente não será mais possível escalonar os inimigos a serem combatidos. Existe, dentro do sistema de crenças judaico-cristão, um "teto" que não pode ser ultrapassado - e ao passar das meras escaramuças com demônios para a guerra civil celestial, Dean e Sam se aproximam, muito rapidamente, deste teto. Spoiler alert! Uma prova disto é a relativa facilidade com que eles dão conta - neste episódio - de uma entidade de status divino, o que comprova, de uma vez por todas, que eles não são mais o Dean e o Sam do primeiro ano.

Para mim, este episódio foi o melhor da temporada: única exceção feita ao Weekend at Bobby's", um episódio todo narrado pela perspectiva de um personagem - sejamos francos - absolutamente secundário mas que se mostrou extraordinariamente interessante - talvez justamente por reviver o aspecto humano que a dupla Winchester vem perdendo - de naco em naco - a cada temporada que passa.

2 de nov. de 2010

Nerdcast 232 - Monstros

Este post é escrito especificamente para os que ouviram o Nerdcast 232 e 233. Se você chegou aqui por algum motivo e não os ouviu vá aqui e aqui - e depois retorne. 
  
Ouvindo a leitura de e-mails do Nerdcast 233 - me incomodou a dificuldade do JN e do Azaghal em definir o conceito de monstro - justamente que havia sido o tema do Nerdcast anterior- "Dragões, monstros e o impronunciável Cthulhu". Este post é uma tentativa de colocar alguma luz sobre este conceito - que é, por sua própria natureza, refratário a esta iniciativa. 

Definido o que é "monstro":

O conceito de " monstro" deriva de três noções básicas que se articulam:

(1) Existe uma Ordem no mundo;
(2) Esta Ordem não é perfeita - e, ocasionalmente, falha;
(3) Quando esta Ordem falha - aí, neste vão, neste espaço, surgem os monstros.

(Poder-se-ia argumentar aqui que a falha na Ordem é - por si só - um Ordem em si mesma  - mas não vamos entrar neste debate - por demais filosófico para este Blog.)

Estes três conceitos ficam fáceis de se entender a partir da contemplação do quadro de Goya (ao lado), intitulado "O Sono da Razão Produz Monstros". A razão, aqui, não é a razão humana - mas a razão na Natureza - o princípio de Ordem  e razão presente na Natureza.

Como base nestes três pressupostos o monstro - seja ele qual for - é sempre exceção e sempre um desvio da Ordem natural das coisas - é sempre algo que não deveria existir. Muitas vezes, também, os monstros se localizam/originam de lugares ermos ou inacessíveis - o que serve para representar fisica e geograficamentemente o seu caráter de exceção. O monstro, além disso, tipicamente se propaga - quando tal ocorre, de forma não-biológica e não-natural - ou possui uma duração indefinida, o que o exime da necessidade de reprodução. 


Respondendo às dúvidas do Nerdcast:

Desta forma, usando a lista dada pelo próprio Nerdcast (leitura de e-mails do 233) como exemplo:
 
Gremlins (os do filme de mesmo nome) são monstros.
Lobisomens - como em The Wolfman (2009) - são monstros. Lobisomens - como em Anjos da Noite (2003) - não são.
Drácula - de Lugosi, de Lee ou como em Bram Stoker´s Dracula (1992), por exemplo - é um monstro.
A Múmia - como no clássico de 1932, The Mummy bem como na versão-pipoca de 1999 com  Brendan Fraser - é um monstro.
Frankenstein - de Karloff, por exemplo, mas também o Mary Shelley's Frankenstein (1994) - também é.
Zumbis sobrenaturais são monstros. Zumbis científicos não são.
O caminhão de Encurralado e o Tubarão - de Jaws - não são monstros
Freddy Krueger é um monstro (como não?). 

Detalhando: 

Gremlins: tanto na sua forma Mogwai quanto na forma réptil - são monstros, porque: (1) existem em caráter de exceção (quem lembra bem do primeiro filme de 1984, nã ovai deixar de perceber que o Mogwai é tratado como um "animal" raro/exótico); (2) se reproduzem de forma não-biológica (quantos animais você conhece que se multiplicam ao se adicionar água?). 
Lobisomens: os Lobisomens do filme recente (e belíssimo) The Wolfman (2009) são seres de exceção - que só existem em um local (vilarejo) remoto, etc. - e  se propagam de forma, evidentemente, não-natural. 
os Lobisomens (e também os Vampiros)  vistos em Anjos da Noite (2003) e que se constituem em uma verdadeira comunidade de existência paralela à da Humanidade não são monstros - são, no máximo, um espécie diferente da humana, com peculiaridades próprias. 
Drácula: o Drácula do livro de Bram Stoker é de fato o monstro por excelência: existe em caráter de exceção (não há menção a outros vampiros no livro - tirando, evidentemente, as "noivas") e em lugar remoto não-sujeito às leis da civilização (algum lugar dos Cárpatos,  "esta terra onde o diabo ainda caminha com pés humanos", como o infeliz Johnatan Harker escreve em seu diário). Menções no Cinema - e posteriormente nas séries de TV - a toda uma raça de vampiros existindo em paralelo à humana são invenções muito, muito recentes.
A Múmia: contanto no no clássico de 1932 - com Karloff - bem como nos  dois primeiros filmes da Trilogia recente com  Brendan Fraser, a Múmia é encarada como um caráter de exceção. No  primeiro filme (1999), inclusive, é claramente colocado que o simples fato da Múmia ter retornado à vida é algo tão grave, tão sério, que desafia de tal maneira a ordem natural das coisas que o mundo começa a experimentar os sinais do Apocalipse. - ou seja, de ruptura iminente da Ordem. (No segundo filme isto é abertamente esquecido: e vemos a Múmia em forma plenamente humana andando pra lá e pra cá sem que nada de mais aconteça). 
Frankenstein: o simples fato de as pessoas se referirem ao monstro de Frankenstein já seria algum indicativo do seu caráter monstruoso. Aqui há algo interessante: no livro de Mary Shelley, a criatura chantageia o seu criador para que lhe construa uma companheira - esta também feita de pedaços de cadáveres. O plano do monstro - se não me falha a memória - é tomar a sua companheira e seguir para algum lugar ermo onde viveriam happily ever after. Não haveria nenhum impedimento - até onde eu imagino - de o  monstro de Frankenstein meramente raptar uma humana qualquer e seguir no seu intento - mas este quer que seja alguém igual a ele - e que partilhe do mesmo caráter de exceção em relação à Humanidade.
Zumbis: os zumbis sobrenaturais são monstros porquê representam uma violação da ordem natural ("Quando não houver mais espaço no Inferno os mortos caminharão pela Terra"): Já os zumbis científicos não são monstros: são, no máximo, pessoas doentes. Isto suscita um dilema ético importante pois, a qualquer momento, poderia surgir uma cura que os revertesse à normalidade. Eu, por mim, sou á favor da volta aos zumbis tipo Romero.
O caminhão de Encurralado: não é um monstro propriamente dito - pois não partilha de nenhuma carcterística "monstruosa" - mas foi tratado no fime como um monstro - como o JN bem ressaltou.
Tubarão: esse é realmente difícil. É fácil perceber que King Kong e Godzilla são monstros, mas o Tubarão (de Jaws) é complicado. Embora este também tenha sido tratado de forma algo monstruosa no filme - do mesmo Spielberg - um tubarão é um tubarão - e, verdade seja dita, o número de vítimas humanas fatais por ataque de tubarão é insignificante perto do que nõs como espécie fazemos com os tubarões todos os anos (são milhões de mortos). Neste caso, nós somos os monstros!
Freddy Krueger: quem lembra bem dos primeiros filmes de A Nightmare on Elm Street (e o título já diz tudo: "Um Pesadelo na Rua Elmo") sabe que a origem de Freddy Krueger está ligada a algo que aconteceu na cidade de Springwood - e sua atividades oníricas estão especificamente relacionadas aos filhos das pessoas responsáveis pela sua morte. Inclusive, se bem me recordo, haveria uma limitação para o alcance de sua atividade - que não se extendia além dos limites da cidade,  pelo menos em alguns dos filmes. (A mesma coisa ocorre com Jason Voorhees que - pelo menos nos primeiros filmes - tem a sua existência e raio de atuação mais ou menos ligada a Crystal Lake.)

E Cthulhu?

Sobre a discussão de Cthulhu ser monstro ou alienígena esta é uma questão de díficil resolução - e muito provavelmente assim o é porquê Lovecraft nos quis deixar mesmo na dúvida. Embora, por um lado, Cthulhu pertença a uma espécie (embora de origem "nas estrelas") bem definida - que teria reinado na Terra antes da Vida como a conhecemos ter evoluído - por outro lado, ele e os da sua espécie não existem exatamente no mesmo contínuo espaço-tempo que a espécie humana - eles existem "no espaço entre os mundos" - ou seja, nos intervalos na Ordem. 

Na mitologia Lovecraftiana, a existência da espécie humana é tão mais episódica, é tão mais acidental, tão mais fortuita e frágil que todo o restante do Universo que - dentro desta mitologia, o ser humano - em toda a duração de sua espécie na Terra - é, na verdade, o  verdadeiro monstro. Assim, quando se diz que Cthulhu dorme e que, quando este acordar a espécie humana terá fim, podemos claramente perceber que - nesta visão Lovecraftiana - Cthulhu é o sonhador do quadro de Goya - e a espécie humana são os seres que só existem enquanto este se encontra adormecido.

Respondido, Azaghal? =)

The Walking Dead (2010)

Assisti o primeiro episódio de The Walking Dead  de espírito aberto, tentando não fazer comparações com a HQ - que já tinha conhecido previamente e adorado! Posso dizer que fiquei bastante satisfeito com o resultado desta adaptação que - com toda  a certeza - agradará a todos aqueles que leram e gostaram do comics - como eu - e também aqueles que não estão familiarizados com as desventuras do policial caipira - e nosso (anti-)herói - Rick Grimes. Na verdade, só uma coisita me incomodou - uma coisita de nada, piquitita, mas que acredito  que vale a pena falar aqui.

Já tivemos a ocasião de falar aqui dos dois tipos de zumbis: os zumbis científicos e os zumbis sobrenaturais - e das importantes diferenças entre eles. Me parece existir uma contradição na maneira como os zumbis foram representados neste primeiro episódio de The Walking Dead: se por um lado eles são bem ágeis - o que os coloca do lado dos zumbis científicos - por outro lado, o nítido processo de decomposição definitivamente os coloca na categoria de zumbis sobrenaturais. Embora eu compreenda que o que  muito provavelmente aconteceu aqui foi uma tentativa de aliar as "melhores" características de cada tipo de zumbi - a agilidade dos científicos e a escatologia dos sobrenaturais - isso francamente me incomoda.

Eu tive a impressão - na HQ - que os zumbis do Universo de The Walking Dead eram aberta e claramente sobrenaturais. Um dos argumento a favor desta hipótese é que - na HQ - todo mundo que morre - independentemente do motivo/causa mortis - torna-se zumbi quase que imdiatamente após a morte: e um sinal gráfico disto - novamente referindo à HQ - é  justamente um "clarão" que cerca o recém defunto após o trespasse.

Além disso, na HQ, os zumbis muito excepcionalmente se movem em uma velocidade superior à de uma pessoa normal caminhando sem pressa - donde o nome "Walking" Dead, os mortos que "caminham". Na cena da cidade, achei que alguns zumbis estavam excessivamente "empolgados" em perseguir o nosso herói caipira. Como metade da alegria de se assistir uma adaptação - de qualquer coisa - é justamente reparar nestas desemelhanças, acredito que estas pequenas incoerências serão mais uma fonte de interesse - e posts - para os próximos episódios. 

Em tempo: no dia 05/11 às 22 horas (aqui no RJ, pelo menos) o NatGeo pega uma caroninha no hype com o documentário "A Verdade sobre os Zumbis". Vou tentar assistir! 

Nota Nerd: A Revista Galileo, por sua vez,  publicou nesta sua última edição uma pequena reportagem sobre os mortos-vivos, na qual cita especificamente a estréia de The Walking Dead. Achei o link para a reportagem aqui. Vale a pena ler toda a matéria, mas o destaque vai para o pequeno Guia ao final de "Como Sobreviver a um Ataque Zumbi", muito bem escritinho - e muito divertido. Só uma incorreção, ao meu ver: a reportagem refere o surgimento do zumbi científico ao filme Extermínio (2002) quando, na realidade, se fossêmos buscar uma origem histórica, acertaríamos mais se os relacionássemos ao filme Resident Evil, do mesmo ano - este, por sua vez derivado do jogo para PS bem anterior (1996).
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