12 de nov. de 2010

O Que o #Nerdcast 235a não falou sobre #BattlestarGalactica

Agora que chamei a sua atenção, acabei de ouvir o Nerdcast 235a que está excepcional - e mal posso esperar pela segunda parte na quarta-feira depois do feriado! Senti apenas que faltou falar um pouco mais da série clássica, que me decidi a tratar neste post. (não sei se eles vão abordar este assunto na parte 2 mas aqui vai mesmo assim!)

Onde tudo começou

Tudo começou em 1968 a publicação do livro "Chariots of the Gods?" - que aqui no Brasil se chamou "Eram os Deuses Astronautas?". Neste livro, Erich von Däniken levanta milhões de dados, argumentos e palpites a fim de embasar duas hipóteses que fariam a cabeça de muita gente nos anos a seguir: que (1) a Humanidade tem, na verdade, uma origem extraterrestre e que (2) as histórias de todas as mitologias sobre divindades vindas do céu se referem, na realidade, ao contato com visitantes de outros planetas. 

Desconfio que Erich von Däniken deva ter ficado podre de rico, pois inaugurou uma verdadeira franquia de mais de uma dúzia de livros ao redor do mesmo tema. Na época, as teorias de Däniken animaram toda uma geração - e, aqui no Brasil dos distantes anos 80, o seu nome era uma citação quase que obrigatória da revista Planeta - então uma espécie de porta-voz dos movimentos alternativos e de contra-cultura. E o que isso tema ver com Battlestar Galactica? Tudo!

I Want to Believe

Battlestar Galactica (a série original) surgiu em 1978, ou seja, dez anos depois dos livros de Däniken. O prólogo da série já resumia bem a trama - cito-a aqui:

"Existem aqueles que crêem que a vida aqui começou lá em cima, bem distante no Universo com tribos de humanos que podem ter sido os antepassados do egípcios ou dos toltecas ou dos maias. Seres que podem ser irmãos do Homem e que até agora lutam para sobreviver em algum lugar muito além daqui."

(Existe uma versão usada no filme que é um pouquinho mais longa - e que menciona as pirâmides do Egito e a Atlântida:

"There are those who believe that life here began out there, far across the universe, with tribes of humans who may have been the forefathers of the Egyptians, or the Toltecs, or the Mayans. That they may have been the architects of the great pyramids, or the lost civilizations of Lemuria or Atlantis. Some believe that there may yet be brothers of man who even now fight to survive somewhere beyond the heavens. ")

Não preciso falar mais nada, OK? Se você quiser conferir a abertura da série com a dublagem em português, clique aqui. Toda a trama de Galactica era baseada na tese de Eram os Deuses Astronautas e existem diversos aspectos da série (clássica) que remetiam a isto - alguns do que mais me chamavam a atenção quando eu assisti pela primeira vez foram:

- Os personagens tem nomes tirados da mitologia: Adama (Adam/Adão), Apollo, Athena, Cassiopeia, etc.
- As doze tribos que compõe a  Humanidade de Battlestar Galactica correspondem aos doze signos do Zodíaco - o que eu nunca entendi direito, mesmo quando criança, porquê os signos do Zodíaco só fazem sentido vistos da Terra, uma vez que são interpretações humanas de aglomerados de estrelas situados dentro de certo intervalo no céu noturno, mas deixa pra lá;
- O Cylon  que servia de conselheiro e ajudante de ordens do Baltar original se chamava Lúcifer. (Tenho para mim que o personagem da número 6 foi enormemente baseada nesta relação entre o Baltar original e este Cylon em particular - coisa que só é possível perceber e apreciar conhecendo-se um pouco da série original. A genialidade dos criadores da versão reimaginada foi, justamente, tornar uma relação externa - entre dois personagens distintos - em uma relação interna - as visões de Baltar com a número 6 - deixando a nós, expectadores, muitas vezes na dúvida se esta é real ou não.)
- O  capacete dos pilotos dos caças de batalha - e esse é o melhor de todos - é todo em moldes egípcios (ver foto). 

Meta-Deuses

Até aí tudo bem, mas no episódio War of the Gods, a trama toda dá um salto impressionante. A história é a seguinte: Apollo e Starbuck encontram os destroços de uma nave em um planeta qualquer - e no meio dos destroços, um único sobrevivente que se auto-denomina Conde Iblis (com "L"). Eles levam o tal Conde Iblis de volta com eles para a Galáctica - e este começa a demonstrar habilidades incomuns e a realizar prodígios que a população da frota passa a considerar como "milagres". O Conde, então, se diz capaz de levar a frota até a Terra se eles "se entregarem" à sua liderança. 

Não tem como detalhar tudo o que acontece neste episódio mas no final, ficamos sabendo que o Conde é na realidade o membro de uma raça anterior aos humanos - que evoluiu até um nível tão avançado que é indistinguível do que consideramos como sobrenatural. Um dos momentos marcantes do episódio é quando Apollo finalmente resolve atirar nele e os raios o atravessam, não sem antes revelar um silhueta em negativo de uma criatura não-humana com chifres - pois é!  (Se estiver curioso, veja a cena da transformação aqui!) Com o desenvolver da história aprendemos que esta raça antiga se dividiu em duas facções: uma - a do Conde Iblis - que resolveu usar os seus poderes e habilidades para fins egoístas, e uma outra, benévola, que aparece como uns seres envoltos em luz - pois é!

Então, recapitulando, todas as histórias de deuses vindos do céu são recordações da visita dos ancestrais das 12 tribos. No entanto, é bem possível que as recordações dos deuses das próprias 12 tribos sejam recordações de interações passadas da super-raça anterior. Legal, não? 

Meus Deuses, eles estão em toda a parte!  

Apenas como uma nota rápida, e para se ter uma idéia de como este conceito oriundo dos livros de Däniken era difundido pela ficção científica da época, existe um episódio de Star Trek (a série Clássica) - chamado Return to Tomorrow - que tem um argumento em tudo parecido com o de War of the Gods: uma raça antiga de seres hiperevoluídos se divide em duas facções rivais -  por diferenças "éticas"  na utilização de suas habilidades - e acaba iniciando uma guerra milenar. Esta raça de seres antigos seria - no Universo Trekkie clássico - a responsável por "semear" a galáxia com vida - o que serve de "explicação" para o fato de que a vida humanóide é encontrada em praticamente todo planeta que a Enterprise vai. Neste episódio também fica implicado que o desenvolvimento das civilizações é cíclico e que, um dia, a espécie humana alcançará o mesmo nível de desenvolvimento que os "semeadores" - e que terá que se defrontar com as mesmas escolhas. Este conceito é reforçado em episódios como Where No Man Has Gone Before, Charlie X e Plato's Stepchildren - que trabalham bem a noção de que:(1) poderes paranormais estão imbuídos na constituição do ser humano e que (2) o seu despertar faria parte do processo evolucionário humano normal. Fim da Nota.

Epílogo: 

Depois de War of the Gods, a Battlestar Galactica clássica caiu beeeeeem de qualidade de roteiro - até o seu final. Mais adiante, houve uma tentativa de ressuscitar a série (como um spin-off, em 1980) já com uma outra abordagem e outros protagonistas - e motos voadoras ao invés de caças (?!). A trama era a seguinte: a Galactica finalmente chega à Terra e percebe que os seus parentes terrestres (dos anos 80) ainda eram primitivos demais para suportar uma luta com os Cylons. Para solucionar este problema, eles deixam aqui alguns "agentes camuflados" com a missão de "acelerar" o desenvolvimento da Terra, plantando idéias de avanços tecnológicos aqui e ali. Este é, claramente, um material de cunho ufológico-conspiratório, bem na linha de "Eram os Deuses Astronautas" - mas que não foi, de forma alguma, bem trabalhado nesta segunda tentativa. 

Não acredito que se caiba dizer que a série reimaginada é melhor ou pior que a clássica (cada qual teve o seu momento) mas acho legal conhecer um pouco da mitologia que antecede a série de 2004 - até para se poder ter alguma noção do que os seus idealizadores tomaram como guideline na hora de construir os roteiros. Só assim, por exemplo, se entende: (1) o que eram as visões de Baltar da Número 6, (2) o que foi a aparição do Baltar e da Número 6 em nossos dias - nos últimos minutos do episódio final - ou, ainda, (3) porquê a  Hera  tinha tanta importância. Embora Caprica - assim me disseram - tenha sido cancelada, com certeza existe espaço para múltiplos desenvolvimentos deste riquíssimo legado no futuro. Só nos resta torcer - e aguardar!

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