3 de nov. de 2010

Supernatural - S06E06 - You Can't Handle the Truth


O episódio desta semana de Supernatural foi (mais) um excelente episódio de umas dasmelhores da melhor temporada até agora. Confesso que quando assisti aos primeiros episódios da saga dos Winchester - pela Warner - achei que esta não fosse durar muito. O final bombástico da primeira temporada, no entanto, ajudou a catapultar esse pensamento para longe - e, desde então, a série tem sido uma sequência de gratas surpresas. Eu tenho uma desconfiança natural quanto a séries que usem o modelo adotado por Supernatural - modelo este que alterna episódios do tipo "monstro da semana" com a construção em paralelo de uma mitologia que se propõe a "amarrar" a trama em um arco maior - e isso desde Arquivos X. 
 
Isto acontece por duas razões básicas, A primeira delas é que - pelo menos assim eu tenho percebido -, com o passar do tempo, o arco mitológico tende a se impor sobre os episódios one-shot - o que faz com que a série perca a vitalidade em si, podendo descambar para uma série de meta-intrigas e fosforilações intermináveis. A segunda razão é que arcos mitológicos - por mais intrincados e bem construídos que sejam -  tendem a eventualmente se resolver além de qualquer complicabilidade (inventei essa palavra) posterior, o que "quebra" o modelo mitologia versus monstro da semana de uma forma por vezes irreparável. 

Foi assim com Arquivos X : muito pouca gente se apercebeu, mas toda a trama de Arquivos X se resolveu do quarto para o quinto ano. Quando digo "se resolveu" digo exatamente isto: foi tudo inequívoca e absolutamente explicado. Por volta do meio do quinto ano, o expectador de X-Files moderadamente atento já sabia: (1) que fim levou a irmã de Mulder (e detalhes deste fim); (2) porquê (e por quem) ela foi levada;  (3) qual a relação do Canceroso com a família do Mulder; (4) qual a natureza exata da conspiração alienígena e (5) o que era e pra que servia - e de onde tinha vindo - o esquisitíssimo óleo negro. Ou seja: toda a trama que se constituia na mitologia da série já havia sido derrubada. Os quatro anos seguintes aconteceu o que todo mundo sabe: a série foi se arrastando de asa quebrada até um final um tanto quanto melancólico. Ela não sobreviveu à explicação de sua própria mitologia - e isto não é verdadeiro apenas para séries de TV.

Supernatural tem conseguido driblar de forma muito eficiente esta falha potencial do modelo através da contínua e operosa construção e reconstrução de mitologias uma em cima da outra. Desta forma, a saga do "demônio de olhos amarelos" deu origem à saga de Lilith, que deu origem a saga de Lúcifer, que deu origem à atual busca pelos "artefatos angélicos" espalhados pela Terra. Isso tudo de uma forma bem criativa, bem costuradinha - com um mínimo de transição perceptível. Eventualmente, no entanto, a saga dos irmãos Winchester terá de chegar ao fim: isto porque esta chegará a um ponto onde simplesmente não será mais possível escalonar os inimigos a serem combatidos. Existe, dentro do sistema de crenças judaico-cristão, um "teto" que não pode ser ultrapassado - e ao passar das meras escaramuças com demônios para a guerra civil celestial, Dean e Sam se aproximam, muito rapidamente, deste teto. Spoiler alert! Uma prova disto é a relativa facilidade com que eles dão conta - neste episódio - de uma entidade de status divino, o que comprova, de uma vez por todas, que eles não são mais o Dean e o Sam do primeiro ano.

Para mim, este episódio foi o melhor da temporada: única exceção feita ao Weekend at Bobby's", um episódio todo narrado pela perspectiva de um personagem - sejamos francos - absolutamente secundário mas que se mostrou extraordinariamente interessante - talvez justamente por reviver o aspecto humano que a dupla Winchester vem perdendo - de naco em naco - a cada temporada que passa.

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