11 de nov. de 2010

The Walking Dead - S01E02 – Guts

 Spoiler Alert! O segundo episódio de The Walking Dead não decepcionou - mas ficou, de alguma forma, aquém do que eu gostaria. A trama toda foi um mini-Dawn of the Dead perceberam? Eu não lembro de nada disto que foi mostrado nos comics - o que não significa que não esteja lá, só que eu não lembro! Não sei se cochilei mas o fato de um dos sobreviventes no prédio fazer contato por rádio justamente com o grupo fora da cidade no qual está a esposa e o filho do policial Rick (o nosso herói) pareceu - pelo menos para mim - uma extraordinária forçação de barra! Bom, este foi o review do episódio: agora vamos à parte realmente importante: zumbis!

Me incomoda muito que zumbis - que, pelo menos teoricamente, estão mortos - "farejem" o ar como cães perdigueiros - e isto me incomoda por um simples motivo: eles não respiram! As cenas nas quais isto acontece requereram um esforço extra de suspension of disbelief de minha parte - pois quebraram toda a plausibilidade do cenário até então construído na minha cabeça. High School of the Dead - antes de descampar de vez para o estilo fan service, trabalhou este conceito de uma forma muito melhor: ao relacionar o direcionamento dos zumbis à percepção de sons e vibrações. Embora este mesmo episódio de The Walking Dead tenha explorado alguma coisa da atração dos zumbis pelos sons - que é um tema, inclusive, bastante recorrente nos quadrinhos - o grande destaque ficou por conta das habilidades, digamos, "farejadoras" dos mortos-vivos. O fato de se ter dado um destaque maior para as faculdades olfativas dos zumbis, pode indicar uma dependência maior destes do cérebro primitivo (paleocórtex) em detrimento das faculdades intelectuais superiores (neocórtex) - provendo, desta forma, alguma base neurológica para o comportamento dos walkers. Isto os colocaria, é claro, muito mais na categoria de zumbis científicos - aqueles que na verdade estão vivos, mas infectados - do que na categoria de zumbis sobrenaturais estilo Romero - que estão verdadeiramente mortos. (já falamos desta distinção entre os dois tipos básicos de zumbis neste outro post).

Fiquei de olho desta vez para ver se os zumbis "corriam" - que é, como sabemos, uma característica dos zumbis científicos - mas o que eu vi foi, no máximo, um "andar apressadinho" - e nenhuma corrida de fato que merecesse este nome. No entanto, os zumbis deste episódio sobem escadas, escalam cercas e usam até mesmo instrumentos primitivos (como uma pedra para quebrar vidro) - o que, embora não seja totalmente incompatível com zumbis sobrenaturais, representa, por si só, um grande distanciamento dos quadrinhos. Não deixa de ser uma opção interessante para aqueles que - como eu - leram a HQ antes de assistir à série: pois podemos sempre aguardar por novas surpresas - e não por uma mera roteirização do que já lemos na HQ.

O fato de os zumbis da versão televisiva escalarem cercas por si só já desconstrói arcos inteiros dos quadrinhos - como aquele nos quais os sobreviventes se refugiam por trás de uma cerca de tela e arame farpado.

Por sua vez, o fato de os zumbis correrem - ou, pelo menos, andarem com muita pressa - inviabiliza um acampamento no espaço aberto - como nos foi mostrado aqui. Nos quadrinhos isso só é possível porquê os mortos-vivos caminham bem devagar - podendo ser avistados e alvejados muito antes de se tornarem uma séria ameaça. 

O pobre caipira que foi deixado para morrer no alto do prédio - que, com toda a certeza, não aparece nos quadrinhos - e o desfecho algo inconclusivo (tinha um monte de ferramentas espalhadas pelo chão, não tinha?) pode indicar um "gancho" para um retorno do personagem. Aliás, o simples fato de terem escolhido um ator tão bom -  Michael Rooker, pesquise por aí! - já é um indício de que ele pode muito bem voltar a aparecer - talvez como antagonista do grupo de sobreviventes. Se isto acontecer, vamos ver como vai ficar o resultado final: o grande barato dos quadrinhos de The Walking Dead - o que o torna especial - é justamente o fato de não existir polarização Bem versus Mal - sendo simplesmente a história de uma grupo de pessoas tentando sobreviver em um mundo absolutamente caótico. Algo, aliás, em tudo parecido com a vida real.

2 comentários:

  1. Olha, sr. adorei sua crítica, talvez a melhor que já tenha lido até agora sobre TWD.
    Sobre essa questão dos zumbis (cortex e tudo mais), andei pensando sobre o assunto.
    Se eles podem se mexer, olhar, tocar, ouvir, grunhir, sentir (sangue e carne fresca), porque não cheirar também?
    Independente da respiração ou de qual lóbulo esse sentido pertença, acho que é mais um dos sentidos sensoriais que eles tem que ter ativos pra se encaixar com os outros sentidos que já estão.
    Seria esquisito se eles apenas pudessem apenas ver, ouvir, tocar e "falar", ficaria meio vago se eles não pudessem "olfatear".
    Não concorda?

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  2. Prezado, Olá!

    Obrigado pelo comentário e pelos elogios! Vou buscar responder às suas colocações!

    Partindo do pressuposto que zumbis não existem (só para ter certeza que estamos de acordo quanto a isto, OK?) tudo pode, é claro - mas para mim, zumbis farejadores fica meio (muito!) esquisito. Quando a gente força a inspiração buscando identificar um odor específico - o popular "fareja" - na verdade estamos buscando aumentar o fluxo de entrada de ar de forma a que ele penetre na parte superior de nossas fossa nasais (onde estão os receptores olfativos). Eu não me lembro de ter feito isso alguma vez na vida que não fosse de uma forma consciente. Por isso - para mim - fica estranho: porquê parece que o zumbi está ali dotado de alguma forma de consciência - o que contraria o que "sabemos" sobre zumbis (além disso, fica parecendo cachorro e eu gosto muito de cachorro!).

    Para zumbis científicos, pelo menos, não teria nada de errado estes farejarem - pois seriam apenas seres humanos infectados (doentes?).

    Da lista que vc colocou não estou bem certo (na minha imaginação) que os zumbis "ouçam" como nós ouvimos - acredito mais que eles captem as vibrações do ambiente como colocado no anime HOTD, que eu menciono no post. Também não imagino muito facilmente zumbis dotados do sentido de tato - se a pele se esfarelou é razoável supor que a sensibilidade periférica possa ter sido prejudicada. De qualquer forma esse é um assunto muito interessante para debate.

    Abraço Forte!

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