14 de ago. de 2010

Kuroshitsuji (黒執事)/ Black Butler - episódio 01-03


Assisti os três primeiros episódios do anime Kuroshitsuji - e que também atende pelo nome de Black Butler, ou "Mordomo Negro" - e fiquei seriamente interessado em assistir mais: é uma daquelas séries que não é exatamente "boa" mas que o seu instinto diz que, com alguma sorte - e carinho dos produtores -, pode melhorar até se tornar algo bem digno de nota.

A trama - baseada em um mangá de mesmo nome - se passa em alguma era vitoriana alternativa (com telefones!) e nos fala da estranha relação entre um Lord inglês e seu fiel mordomo. Tudo normal, a não ser pelo fato de o Lord ser uma criança de 12 anos e o mordomo ser uma criatura sobrenatural com poderes inimagináveis. A medida que a história avança ficamos sabendo mais sobre as extraordinárias habilidades dos talentoso mordomo e do terrível preço que o Lord criança tera que pagar para tê-lo a seus serviços.

Este anime - como muitos outros - intercala momentos de uma seriedade absurda com outros de total non-sense. Um dos motivos para muitas pessoas não tolerarem animes é justamente por se prenderem demais nos personagens/momentos de alívio cômico e não conseguirem enxergar o verdadeiro plot por detrás. Para estas pessoas eu recomendaria começar a assistir anime escolhendo aqueles com pouco (porquê um anime sem nenhum é muito difícil de se encontrar) alívio humorístico. Esta série possui não um, nem dois, mas pelo menos quatro personagens fixos de alívio cômico - o que eu, particularmente, achei excessivo - e que a torna pouco indicada para aquelas pessoas que se sentem incomodadas com esta mistura de drama/comédia que caracteriza muitos animes. 

A nossa cultura ocidental acidentada - como dizia Lacan - está acostumada com dois gêneros narrativos bem definidos - via Grécia antiga: tragédia e comédia. Animes alternam um e outro sem qualquer pudor - por vezes, na mesma cena - o que é de fato desconcertante para nós ocidentais. Tenho esperança de que este anime em especial tenha optado por multiplicar o alívio cômico como forma de contrabalancar a contraparte trágica do enredo: só o tempo - ou uma pesquisada na Wikipedia dirá. Nesse ponto, não é difícil adivinhar que o desenvolvimento trágico será em torno da - segunda - obsessão favorita dos japoneses: o destino e sua inescapabilidade.

Destino, no contexto oriental, é algo ligeiramente diferente do que nós ocidentais estamos acostumados a pensar: tem mais a ver com família, herança, tradição e karma. O jovem Lord de Kuroshitsuji - como rapidamente se descortina nos episódios que assisti - está preso a um contrato já firmado pelos seus antepassados - mas que é, ao mesmo tempo, uma escolha dele próprio. O mordomo, por sua vez, - pelo menos assim me parece - é tão prisioneiro quanto seu mestre. Ambos desempenham um papel que já foi escrito há muito tempo e ao qual não podem, na realidade, fugir. Quando a vida chega a este ponto, o que nos resta? Nada, além de refinar o modo de preparo de um especialmente britânico chá Earl Gray ou aprender os simples passos da valsa. As frivolidades do dia-a-dia se tornam aquilo que dá sentido à uma vida já sem qualquer surpresa quanto ao seu desfecho - esta é a lição que nos ensina o povo que inventou o origame e o ikebana.

Uma curiosidade: segundo o que li por aí, a palavra en japonês para demônio é mesma para mordomo, logo, quando o personagem fala: "Eu sou apenas um mordomo" estaria, na verdade, anunciando a todos - abertamente - a sua verdadeira natureza.

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